terça-feira, 9 de março de 2010

QFilmeéEsse?

(Diálogo entre um paciente do hospício e o protagonista do Filme "Bicho de sete cabeças")

É preciso fingir.

Quem é que não finge nesse mundo? Quem?

Tem que estar bem disposto. É preciso dizer que não tá com fome. É preciso dizer que não tá com dor de dente. É preciso dizer que não tá com medo.

Se não tá... não tá.

Nenhum médico jamais me disse que a fome e a pobreza podem levar a um distúrbio mental. Mas quem não come, fica nervoso. Quem não come e vê seus parentes sem comer, pode chegar a loucura. Um desgosto, pode levar à loucura. Uma morte na família, um abandono do grande amor...

A gente até precisa fingir que é louco. Fingir que é poeta... Vai até ali (na parede) e leia:

(texto escrito na parede:)

O buraco do espelho está fechado.

Agora eu tenho que ficar aqui,
com um olho aberto, outro acordado,
no lado de lá onde caí.

Pro lado de cá não tenho acesso,
mesmo que me chamem pelo nome,
mesmo que admitam meu regresso.

Toda vez que eu vou a porta some.

A janela some na parede.

A palavra de água se dissolve.

Na palavra sede, a boca cede,
antes de falar, e não se ouve.

Já tentei dormir a noite inteira,
quatro, cinco, seis da madrugada.

Vou ficar ali nesta cadeira,
uma orelha alerta, outra ligada.

O buraco do espelho está fechado.

Agora eu tenho que ficar agora,
Fui pelo abandono abandonado,
aqui dentro do lado de fora.

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